In Memoriam
2022 foi um ano especialmente cruel para os fãs de quadrinhos.
Fica aqui a singela homenagem do Mansão Wayne a alguns dos grandes ídolos das HQs que perdemos no decorrer deste ano.
BRIAN AUGUSTYN
02/11/1954 – 01/02/2022
Mesmo quem nunca leu uma história escrita por Brian Augustyn precisa saber que deve muito a ele. Foi Augustyn que, como editor na DC, apostou em artistas completamente desconhecidos como Humberto Ramos, Travis Charest, Oscar Jimenez, Howard Porter, Mike Parobeck e Mike Wieringo. Foi ele também que contratou, a contragosto de seus superiores na editora, o iniciante Mark Waid para escrever o título do Flash, solidificando não só o jovem escritor mas também toda a mitologia do personagem. Com Waid, ele ainda trabalhou em títulos como Impulso e Liga da Justiça Ano Um, tanto como editor quanto como co-roteirista. Para a mitologia do Batman, Augustyn é o responsável por escrever a HQ Gotham City 1889 (Gotham by Gaslight), considerada o primeiro Elseworlds da editora.
Morreu por conta de um derrame, aos 67 anos.
TOM VEITCH
26/09/1941 – 14/02/2022
Surgido nos quadrinhos underground, o escritor Tom Veitch é mais conhecido pelo grande público por sua minissérie The Nazz e seu trabalho em Homem-Animal, além da obra A Guerra de Luz e Trevas. Essa última caiu no gosto de ninguém menos que George Lucas, que, no começo dos anos 1990, convidou Veitch para escrever as séries Star Wars: Dark Empire e Tales of the Jedi pela editora Dark Horse, fazendo-o assim um dos principais responsáveis pelo início e desenvolvimento do Universo Expandido de Star Wars.
Para os ouvintes do Mansão Wayne, Veitch também é famoso por ser o culpad.. hã, o responsável pela HQ Superman: At Earth’s End, citada no nosso podcast #163: Histórias Ruins Que Gostamos.
Tom Veitch morreu aos 80 anos, uma das milhões de vítimas da pandemia de Covid-19 ao redor do mundo.
NEAL ADAMS
15/06/1941 – 28/04/2022
Além de seu traço que influenciou gerações de artistas, do padrão estabelecido para o Batman e de suas passagens por HQs memoráveis como Vingadores, X-Men e a parceria entre Lanterna Verde/Arqueiro Verde, um dos grandes legados deixados pelo desenhista Neal Adams certamente é sua cruzada pelo direito dos quadrinhistas, ajudando artistas e roteiristas clássicos a retomar obras originais, serem melhor remunerados por suas criações lucrativas e a receber o reconhecimento que mereciam por suas contribuições, além de redefinir a indústria dali em diante, inclusive sendo um dos idealizadores do Comics Creators Guild, uma espécie de tentativa de sindicato para criadores de quadrinhos no final dos anos 1970.
O artista faleceu aos 80 anos, por complicações causadas por uma sepse.
GEORGE PÉREZ
09/06/1954 – 06/05/2022
Todos fomos pegos de surpresa em dezembro de 2021, quando a lenda George Pérez anunciou a descoberta de um câncer do pâncreas em estágio avançado e inoperável. O prognóstico era de seis meses a um ano de vida, nos quais o artista optou por não se submeter a nenhum tratamento. Ao invés disso, ele usou o tempo para aproveitar a companhia da família, se encontrar com amigos e participar de convenções para se despedir dos fãs, mostrando ser tão incrível como pessoa quanto como artista.
Considerado quase que unanimemente como um dos maiores desenhista de super-heróis de todos os tempos, Pérez fez história com títulos como Mulher-Maravilha, Vingadores, Desafio Infinito, Crise nas Infinitas Terras… sua facilidade com layouts complexos e a capacidade super-humana de enfiar inúmeros personagens em uma mesma cena fizeram com que se tornasse um dos desenhistas mais requisitados do mercado. Foi também co-criador dos Novos Titãs e ainda assumiu a responsa de desenhar o crossover Liga/Vingadores (tema do nosso podcast #104).
O grande George Pérez nos deixou aos 67 anos.
TIM SALE
01/05/1956 – 16/06/2022
Tim Sale era capaz de elevar qualquer história à condição de clássico.
Foi o que ele fez com obras como Batman: O Longo Dia das Bruxas, Superman: As Quatro Estações, Homem-Aranha Azul e Demolidor Amarelo. Com um uso refinado de luz e sombras para ditar o clima específico de cada cena, uma narrativa impecável e um talento absurdo para caracterizações de personagens, Sale sabia como ninguém aproveitar o espaço de um cenário e os momentos mais introspectivos de uma história, tornando interessantes mesmo as cenas mais banais. Além disso, tinha um dom especial para desenhar o Batman e principalmente sua galeria de vilões, com seu estilo caricatural e exagerado, expondo visualmente o quão perturbadores aqueles personagens são.
Sua morte foi resultado de uma insuficiência renal, aos 66 anos.
ALAN GRANT
09/02/1949 – 20/07/2022
A história do Batman se confunde com a carreira do roteirista britânico Alan Grant.
Fazendo fama no título 2000 AD, especialmente com o personagem Juiz Dredd, Grant logo ingressou nos quadrinhos norte-americanos e não demorou até assumir as histórias do Homem-Morcego. Tornou-se assim um dos principais nomes criativos dos títulos do Batman até o final dos anos 1990, incluindo eventos e crossovers, e co-criando vilões como Zsasz, o Ventríloquo, Jeremiah Arkham, o Amídala e, claro, o Anarquia. Também foi um dos principais roteiristas do Lobo no período de maior popularidade do personagem, além de ter tido uma passagem marcante com o demônio Etrigan.
Alan Grant morreu de causas não-divulgadas. Ele tinha 73 anos.
TOM PALMER
13/07/1941 – 18/08/2022
Entre os arte-finalistas de quadrinhos, o americano Tom Palmer era sem dúvida um dos mais influentes e longevos. Trabalhando desde os anos 1960 com artistas renomados em diversos títulos como Vingadores, Demolidor, Doutor Estranho, Hulk, Kick-Ass, e também com passagens por Superman e Batman, Palmer ainda se tornou um dos artistas definitivos de Star Wars, tanto na arte-final quanto como ilustrador e também colorista.
Morreu aos 81 anos.
KIM JUNG GI
07/02/1975 – 03/10/2022
O artista sul-coreano Kim Jung Gi talvez não seja tão conhecido por aqueles que só acompanham quadrinhos de super-heróis (para os quais chegou a contribuir com algumas capas, além de colaborar com a arte de um dos contos da HQ Batman: O Mundo), mas ele é sem dúvida uma influência absoluta para boa parte dos artistas desse meio. Com uma arte inacreditavelmente complexa e detalhista, na qual reproduzia imagens muitas vezes apenas a partir de sua memória, ele garantiu ainda um recorde no Guinness Book com o “maior desenho feito por um único indivíduo”.
Kim Jung Gi morreu aos 47 anos, vítima de um infarto fulminante.
KEVIN O’NEILL
22/08/1953 – 03/11/2022
Qualquer um que leu Tigres, história curta da Tropa dos Lanternas Verdes mostrando o planeta Ysmault, uma espécie de inferno aprisionando uma raça de demônios intergalácticos grotescos eternamente torturada, não é psicologicamente capaz de esquecer do traço do desenhista inglês Kevin O’Neill. De tão detalhadamente suja, sombria e perturbadora, a arte de O’Neill fez com que a DC decidisse lançar o gibi sem o famoso (e infame) selo do Comics Code Authority na capa, ao invés de alterar seu estilo por imposição da entidade. Estilo que ele ainda eternizou em obras como Marshal Law e em seu trabalho mais aclamado, A Liga Extraordinária.
Ele faleceu de câncer aos 69 anos.
CARLOS PACHECO
14/11/1961 – 09/11/2022
Possivelmente o maior nome espanhol a desenhar quadrinhos de super-heróis, Carlos Pacheco entrou no mercado norte-americano já com os dois pés na porta, trabalhando com todos os principais personagens da DC e da Marvel, como Superman, Flash, Excalibur e o Quarteto Fantástico. Tornou-se um dos principais desenhistas dos X-Men no final dos anos 1990, mesma época que desenhou o épico Vingadores Eternamente. Já nos anos 2000, desenhou a HQ LJA/SJA: Vícios e Virtudes e lançou seu elogiado projeto autoral Arrowsmith. Não satisfeito, ainda fez as vezes de roteirista durante sua passagem pelo título do Quarteto, provando-se um quadrinhista completo.
Carlos Pacheco se afastou dos quadrinhos em abril deste ano devido a problemas de saúde, e em setembro comunicou os fãs que recebera o diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Ele faleceu menos de dois meses depois, aos 60 anos.
KEVIN CONROY
30/11/1955 – 10/11/2022
Para muitos, o ator definitivo a encarnar o Batman. Seja na clássica série animada, em Batman do Futuro, no desenho da Liga, nos longas de animação ou nos jogos de videogame, Kevin Conroy personificava em sua dublagem toda a essência do herói que interpretava. Ator deslocado nos anos 80, Conroy encontrou na voz do Cavaleiro das Trevas a sua verdadeira vocação, seu verdadeiro legado. Homossexual, com uma história familiar conturbada, e tentando desesperadamente não deixar nada disso transparecer em sua vida profissional, ele entendia bem o dilema de manter duas identidades diferentes. E dessa bagunça, dentro de si, ele criou a voz que toda uma geração de fãs escutará eternamente. Não só na TV, mas em cada balão de diálogo do Homem Morcego.
Kevin Conroy partiu aos 66 anos, por conta de um câncer colorretal.