Gotham Aconteceu
Material extra do MW RPG – Detetives de Gotham (ouça aqui)
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA DE GOTHAM CITY
Avaliação Anual da Equipe
30 de fevereiro
TRANSCRIÇÃO PARCIAL DA ENTREVISTA COM DETETIVE BRIAN W. ENNIS
Horário: 10:30:00 a 10:36:24
– Nome?
DET. ENNIS: Brian W. Ennis
– Idade?
DET. ENNIS: 41 anos hoje. 42 em um mês.
– Detetive, pode me dizer há quanto tempo você atua no Departamento de Polícia de Gotham City?
DET. ENNIS: (pausa) Já tem (pausa) duas décadas? Nossa. Desculpe, sempre parece muito mais. Mas é isso, vinte anos. Sete como policial de patrulha, o resto como detetive. Se importa se eu acender um cigarro?
– Prefiro que não. Então treze anos como detetive. Você se considera bom no seu trabalho?
DET. ENNIS: Se eu me considero bom? Tenho minha inteligência, tenho meus contatos. Eu sei fazer meu trabalho, sim. Acredito que meus casos falam por mim.
– Ok. Você nasceu em Gotham mesmo?
DET. ENNIS: (inquieto) Meu Deus, sempre as mesmas perguntas. Sim, nasci em Gotham. Cresci em Gotham. Estudei e me formei em Gotham. Me casei em Gotham, dormi e acordei cada dia da minha vida em Gotham. Jesus, podiam parar de sempre mandar gente nova pra fazer essa avaliação.
– Como você sabe, detetive, o intuito é não haver vícios ou familiaridade para garantir a imparcialidade da entrevista.
DET. ENNIS: Perda de tempo, isso sim. Ainda mais irritante por não poder fumar.
– (barulho de papel) Você disse ser casado? Eu não encontro ficha da sua esposa…
DET. ENNIS: (silêncio)
– Detetive?
DET. ENNIS: Viúvo. Mas que bom que você tocou nesse assunto, obviamente eu adoro falar sobre isso. (voz quase inaudível) Os anteriores pelo menos faziam a lição de casa antes de vir aqui.
– Lamento, eu…
DET. ENNIS: Claro. Tudo pela imparcialidade, né companheiro.
– Detetive, pode me contar como aconteceu?
DET. ENNIS: Ah pelamor… isso é realmente necessário?
– Temo que sim.
DET. ENNIS: Se você é novo aqui você também deve ser novo em Gotham, não é? Estou certo?
– Sim. Mas minha pergunta foi em relação ao que aconteceu com sua esp…
DET. ENNIS: (interrompendo) Ora, é óbvio! Gotham aconteceu! É isso que essa cidade faz! Ela pega o que você ama e deixa estirada na calçada com um tiro na testa porque não alcançou a carteira rápido o suficiente! É o ciclo da vida de qualquer um nessa merda de cidade. Nascer, crescer, e ela eventualmente vai te foder de algum jeito. É bom você se preparar, hora ou outra ela vai foder você também, companheiro.
– Você já era detetive na época?
DET. ENNIS: Oito anos de detetive nas costas. E olha… seguinte, eu vou te falar uma coisa. Ser detetive em Gotham é fácil quando os crimes são cometidos com charadas, com barro, com plantas carnívoras, com moedas riscadas ou com sorrisos macabros nos rostos dos cadáveres. Saca? A assinatura fica estampada na cena do crime. Mas… encontrar um ladrão qualquer em Gotham… isso é como procurar uma agulha específica no meio de milhões de outras agulhas iguais.
– Você encontrou o criminoso?
DET. ENNIS: (pausa longa) Eu tentei. Meu Deus, como eu queria encontrar o desgraçado. Olha, eu sou um bom policial, um bom detetive. Eu sei que sou. Mas esses filhos da puta, eles são todos iguais. A bala que ele atirou era só mais um tiro entre tantos barulhos de tiro que a gente ouve todos os dias. Que nem o corpo da minha Ruth era só mais um entre os vários corpos encontrados em alguma sarjeta de Gotham naquela mesma noite. Descobrir os pesos-pesados é fácil. Mas um bostinha nervoso que tremeu, fez merda e tirou a vida de uma pessoa inocente… (olhar perdido) como eu queria encontrar o desgraçado. Como eu queria dar eu mesmo um pouco de paz pra minha Ruth.
– Ele nunca foi encontrado?
DET. ENNIS: (pausa) O Gordon… O comissário Gordon se preocupa com toda a equipe dele. Ele viu meu estado. Então ele pediu um favor pra um amigo particular dele. Você deve saber de quem eu to falando.
– Sim.
DET. ENNIS: Pois é. Na noite seguinte o assassino tava amarrado de presente na porta da delegacia.
– Eu sinto um rancor na sua voz.
DET. ENNIS: Meu rancor não é nada comparado com a minha sensação eterna de impotência, companheiro. Acredite.
– Detetive, você chegou a tirar alguma licença depois do ocorrido?
DET. ENNIS: Licença pra que? O que aconteceu, aconteceu. E veja bem, cada crime que eu investigo, cada corpo que eu examino… eu não vejo a minha esposa neles. Eu simplesmente (pausa)
– Detetive?
DET. ENNIS: Eu enterrei minha esposa cinco anos atrás. E cada crime que eu investigo desde então, companheiro, é só mais uma pá de terra em cima do caixão dela. Minha Ruth já está soterrada por cada corpo que eu encontrei nesses cinco anos.
– Então o trabalho não é um peso?
DET. ENNIS: Um peso? (risos) Eu sou detetive em Gotham. Você não ouviu nada da minha história? Se eu quiser eu posso recostar na minha cadeira e esperar o homem vestido de morcego fazer tudo. Nós sabemos que, no fim, é ele que vai fechar a maioria dos casos. Qual a diferença?
– Você acredita que o Batman…
DET. ENNIS: (interrompendo) O Batman! Ahh finalmente podemos falar o nome dele em voz alta. Dá até uma sensação de alívio, não acha?
– Você acredita que o Batman dá conta de todos os crimes de Gotham?
DET. ENNIS: Eu vou te dizer uma coisa. Eu estou aqui bem antes do morcego começar a agir, e eu nem consigo mais me lembrar de como era essa época. Ele escolheu essa vida, então o nosso trabalho de vez em quando é deixar ele fazer o trabalho dele. Que, convenhamos, ele faz muito melhor do que nós.
– Então o Batman faz o que faz por escolha?
DET. ENNIS: Veja bem. Nem toda escolha é feita por livre arbítrio. Às vezes a gente só lida com as merdas que o universo joga na gente. Não sei se o Batman vai estar nesse estilo de vida pra sempre. Eu acho que depende.
– Depende do que?
DET. ENNIS: De quantos corpos ele ainda precisa pra enterrar a Ruth dele.
.
Acompanhe as aventuras do Detetive Ennis no podcast de RPG