Bruce Wayne Contra o MundoColunas

Mulher-Gato / Vampirella

ATENÇÃO!
Este texto contém altos spoilers da edição “Mulher-Gato / Vampirella – As Fúrias”.
Depois não diz que eu não avisei.


Cerca de quatro anos atrás eu iniciei essa coluna.
Eu tinha total consciência do tema sobre o qual eu escolhi escrever. Crossovers não são exatamente conhecidos por serem obras literárias complexas ou de qualidade incontestável. Tirando algumas exceções, a maioria é bem dispensável.
Eu consegui escrever 13 colunas sobre crossovers ótimos e crossovers fracos. Mesmo os fracos tinham algo a oferecer. Algumas páginas divertidas. Talvez um ou outro diálogo interessante. Desenhos bonitos. Ou um mínimo de conteúdo que valesse a pena analisar.

Foram 13 colunas.
Uma hora a merda ia bater no ventilador.

O que nos leva a uma HQ de 48 páginas lançada em 1997, chamada Mulher-Gato / Vampirella.


A história se resume ao seguinte (toma fôlego e):
Alguém está roubando artes com a temática de felinos, e a polícia de Gotham acha que é a Mulher-Gato, e a Vampirella também acha que é a Mulher-Gato, e as duas brigam, só que não é a Mulher-Gato, e daí a Mulher-Gato e a Vampirella se unem pra saber quem é, e descobrem que é a Pantha, personagem das histórias da Vampirella que consegue se transformar numa pantera, e que tava roubando as artes pro cliente dela, de quem elas tinham sido roubadas anteriormente, e… é isso.

Sério, é isso.

Eu não vou perder tempo analisando a história.
Ao invés disso, eu vou te fazer um favor e apresentar dois motivos pra você se manter longe dessa HQ.
O roteiro e a arte!

O ROTEIRO

Eu amo o Chuck Dixon. Especialmente pelo que ele fez com o Robin. O trabalho do cara transformou o Tim Drake no meu personagem favorito da DC. Sem contar que ele marcou presença nas principais sagas do Batman dessa época. Queda do Morcego, Contágio, Terremoto, Terra de Ninguém… Ele foi a voz do Batman nos anos 90, ele escreveu os títulos do Asa Noturna, da Batgirl, da Mulher-Gato, ele criou a Stephanie Brown e as Aves de Rapina. E eu estou me limitando aos títulos que envolvem o Batsquad. Eu AMO o Chuck Dixon.

Por isso é tão triste pegar essa HQ e constatar que o Chuck deixou o gato dele passeando nas teclas da máquina de escrever enquanto ia fazer um lanche.

Eu não vou nem criticar a trama constrangedoramente rasa. Tramas rasas são perdoáveis em crossovers. São até esperadas.
Eu só queria entender o porquê dos personagens serem TÃO BURROS!

A polícia de Gotham persegue a Mulher-Gato, inclusive atirando com o intuito de matar, com uma reles SUSPEITA dela ter ROUBADO algumas obras de arte.
Só pra que, na página seguinte, a Montoya diga “Olha, eu meio que não tenho certeza que foi ela, não”. E quando é constatado que realmente não poderia ter sido ela, o Bullock simplesmente faz um comentariozinho sarcástico. E vida que segue.



A Vampirella passa quatro páginas lutando com a Mulher-Gato por ela ser um monstro mutante, pra de repente perceber “Ei, você é só uma mulher de roupa de couro esse tempo todo! Terei errado?”.


Aliás, eu já comentei que a polícia e uma heroína tão querendo matar a Mulher-Gato por achar que ela roubou algumas coisas?
Ok então..

A ARTE

Eu gosto do Jim Balent. Eu acho bem competente o trabalho que ele fez com a Mulher-Gato nos anos 90, inclusive tornando-se o nome mais ligado ao da personagem nesse período. Bons desenhos, boa narrativa. Eu GOSTO do Jim Balent.

Por isso é tão triste ler essa HQ e constatar que o Balent pegou o roteiro escrito pelo gato do Dixon, tossiu catarro e sangue em cima e mandou pra gráfica.

Talvez pensando na necessidade de uma HQ com duas personagens tão sensuais (e sexualizadas) ter a obrigatoriedade de ser erótica, ele esqueceu completamente as aulas de anatomia do cursinho de desenho que ele fez e falou: “Acho que vai ficar erótico se eu desenhar a Vampirella bem deformada e a Mulher Gato tentando se transformar numa mesinha de centro na maior parte da história!”

Deformada
Mesinha de centro
Deformada
Mesinha de centro
Deformada E mesinha de centro


Sim, eu sei. São coisas da época. Eu vivi esse tempo, eu lembro como era.
Mas é muito deprimente ver que o Balent não fazia nada disso durante as quase 80 edições de Mulher Gato que ele desenhou. E era ótimo (pelo menos na maior parte do tempo).

E é nas cenas que unem a burrice do roteiro com a deformação pseudo-erótica das personagens que Mulher-Gato / Vampirella realmente diz a que veio. Como essa cena, da mesa falante:

– Então você tem esses caninos pontudos e jeito de morcego. Afinal, o que você é?
– Eu sou uma vampira.
– Puxa, por essa eu não esperava.


Pra não ser totalmente injusto, tem UMA cena bacana, quando as duas se encontram.
(só pra não dizer que quem escreveu este texto foi o Roberto Segundo…)


Birras à parte, é uma história bem fraca. A trama, as atitudes das personagens, a motivação da vilã. Personagens sem propósito que desaparecem no meio da história (Bullock, Montoya e Gordon). Existe, sim, a “fórmula dos crossovers”, usada à exaustão nas histórias do tipo. Mas mesmo essa fórmula pode ser usada de um jeito competente ou de um jeito medíocre. Mulher-Gato / Vampirella segue essa fórmula do jeito mais escancarado e superficial possível.
Tanto a Mulher-Gato quanto a Vampirella estavam em alta, tinham bastante apelo, tinham ótimos criadores passando por elas.
As duas mereciam algo melhor que uma história escrita por um gato e ilustrada com catarro e sangue.

Calma…
Gatos e sangue.
Ei, acho que agora eu entendi a ideia!

PS1: Vale lembrar que, assim como as HQs do Spawn aproveitaram as consequências do encontro dele com o Batman (eu falei disso numa das 13 colunas passadas, que você pode ler clicando AQUI), os eventos de Mulher-Gato / Vampirella foram citados num encontro seguinte da vampira com a Pantha, escrito pelo Mark Millar. Fica aí a curiosidade.


PS2: Aproveitando que o assunto é Mulher-Gato, você pode apoiar no Catarse um livro toootalmente dedicado à… hã… vilã/heroína/ladra/futura Sra. Kyle-Wayne (ou não)… no qual a jornalista, pesquisadora, mestre em comunicação e especialista em quadrinhos Dandara Palankof detalha os 80 anos da personagem.
Acessa A GATA e dá uma conferida. O projeto ainda tem a participação do nosso Carlos Vázquez (o EJT) como editor.
Vai ser lindo, confia em mim.


Oi, gente! Faz tempo que a gente não se fala, né? Ai que saudade! Me conta, como vocês tão? Tá tudo bem? Tão se alimentando direito? Lavando as mãos direitinho e tal?
Me conta as novidades, e o que vocês acharam da coluna! Me conta!
Tô com saudadona.





Thiago Brancatelli

Lindo, alto e charmoso. Não possui bichos de estimação, mas divide o aluguel com um cachorro vira-lata chamado Tyler. Já fez tudo o que queria antes dos 30, por isso passa seus dias deitado no sofá lendo quadrinhos, vendo Netflix e comendo Tortuguitas. Está em um relacionamento sério com o site XVideos, mas é apenas pelo sexo.