Logan Wayne, o Garra das Trevas
Hugh Jackman está se despedindo do papel de Wolverine depois de 17 anos interpretando o personagem. Para os fãs do Batman isso soa até estranho, afinal muitos atores já viveram o Homem-Morcego. Mas, afinal, o que os dois heróis teriam em comum? Que tal o fato de já terem sido fundidos no passado?
Em 1996, a minissérie Marvel vs. DC colocou os principais personagens das duas editoras em rota de colisão num dos maiores blockbusters da história. O que sobrava em marketing e estardalhaço faltava em roteiro, infelizmente. As lutas foram pífias, com as principais sendo decididas por votação dos leitores. Porém, o crossover gerou um subproduto incrivelmente divertido.
No meio da trama, os universos Marvel e DC se fundem, dando origem a um novo: Amálgama, com versões bem malucas dos personagens amalgamados, publicadas em várias edições especiais em tom de brincadeira, o que nem todo leitor entendeu à época. As edições, curiosamente, em sua maioria não mostravam as origens dos heróis, mas sim jogavam o leitor no meio da ação, como se fosse uma edição qualquer de uma revista mensal em andamento.
O especial Legends of the Dark Claw apresentou o Garra das Trevas, o amálgama entre Batman e Wolverine, com roteiro de Larry Hama (que escrevia Wolverine na época) e arte de Jim Balent (desenhista da Mulher-Gato). No Brasil foi publicado em Amálgama #1, pela Editora Abril, em 1997.
O Garra das Trevas é Logan Wayne, que viu seus pais serem mortos em Nova Gotham City quando ainda era criança. Foi então enviado para viver com o tio em Alberta, no Canadá. Mas como desgraça pouca é bobagem, logo o tio também foi assassinado por criminosos. A próxima casa de Logan foi um lar para órfãos mantido por freiras. Quando atingiu a maioridade, se alistou na força aérea, onde conheceu e se tornou amigo de Creed Harley Quinn. Juntos, foram recrutados por um projeto secreto que os transformou em armas vivas, abusando de seus genes mutantes.
Logan tinha consciência, o que atrapalhava os planos do projeto, mas ganhou o adamantium que reveste seus ossos e garras, para complementar seu fator de cura. Creed por sua vez se tornou o Hiena – e com os nomes já ficou claro que ele é um amálgama de Coringa e Dentes de Sabre. Todo esse background é revelado, mas nunca é mostrado como Logan se tornou de fato o Garra das Trevas depois de sair do projeto.
A HQ mostrou o Garra das Trevas lutando contra o Hiena, que fazia um ataque ao Presidente Bill Clinton. Sendo uma versão do Batman, o Garra obviamente contava com um parceiro. Ou melhor, uma parceira-mirim: Pardal, o amálgama da mutante Jubileu com a Robin do clássico Batman: O Cavaleiro das Trevas. Na história, Pardal só se mostra bastante irritante e boa com computadores e tecnologia em geral, mas na falsa seção de cartas da edição, ficamos sabendo que ela tem os poderes da Jubileu original, podendo gerar “fogos de artificio”.
Outra personagem que se alia ao Garra na edição é a Caçadora, que é uma mistura da Caçadora/Helena Bertinelli com Carol Danvers, heroína da Marvel hoje em dia conhecida como Capitã Marvel. Ela é uma ex-operativa governamental investigando o Hiena, o que a leva a descobrir a identidade secreta de Logan Wayne, que ela mesma descreve como mago da tecnologia, esportista, pintor e enigma ambulante. Aliás, o Garra das Trevas tem sua própria caverna, chama de a Toca e acessível através de seu estúdio.
Ao contrário da maioria dos amálgamas, Garra das Trevas não era tão divertido, apresentando apenas bastante correria e ação. Mas a junção de dois personagens tão populares acabou atraindo o público.
O tom descontraído dos demais amálgamas foi enfim alcançado no retorno do Garra das Trevas em 1997, quando uma segunda onda de títulos foi lançada. Desta vez Marvel e DC tiveram a genial ideia de criar uma trama nos moldes de Batman: A Série Animada, e o resultado foi Dark Claw Adventures, com roteiro de Ty Templeton e arte de Rick Burchett. O então pouco conhecido Dan Slott, hoje roteirista do Homem-Aranha, deu uma mão no desenvolvimento da trama. Toda a equipe criativa trabalhava na HQ do desenho do Batman no período.
A história apresentava Lady Talia, o amálgama entre Talia Al Ghul e a ciborgue Lady Letal, em busca de vingança contra seu amado Garra, que matou seu pai, o terrorista Rã’s A-Pocalypse, obviamente, a fusão de Ra’s Al Ghul e o mutante milenar Apocalipse.
A diversão foi maior desta vez pela enorme quantidade de detalhes inseridos. Logo no início da história, Logan Wayne tenta achar o assassino de seus pais num bar, usando o disfarce de Patch Malone, a mistura dos disfarces de Wolverine e Batman: Caolho e Fósforos Malone.
A Toca é bastante ampliada. No lugar do tradicional dinossauro robô, existe uma réplica do Dinossauro Demônio da Marvel, bem como o uniforme de uma Pardal anterior, sem maiores explicações. Existe ainda a Danger Cave, uma versão da Sala de Perigo dos X-Men, onde o Garra enfrenta robôs representando seus inimigos: The Two-Faced Goblin (Duas-Caras/Duende Verde), Cybercroc (Crocodilo/Cyber), Bloodcrow (Espantalho/Sanguinário), Spiral Harley (Arlequina/Espiral) e Omega Beast (KGBesta/Ômega Vermelho).
Lady Talia tem alguns serventes interessantes. Ubuwong é o amálgama de Ubu, tradicional servo dos Al Ghul, com Wong, o criado do Doutor Estranho. Um ciborgue chamado THX 1138 também dá as caras, desta vez não fazendo alusão a nenhum personagem da Marvel ou DC, mas sim ao clássico filme de George Lucas de mesmo nome.
Até a seção de cartas entra na brincadeira, com fãs falando da série televisiva da Fox Bros. (Fox/Warner Bros.) e da dupla de criadores principal da animação: Bruce Dini e Paul Timm, essa óbvia demais para explicarmos!
Infelizmente, esse segundo amálgama continua inédito no Brasil. É uma pena também que hoje em dia Marvel e DC sequer cogitem produzir novos crossovers, preferindo alimentar sua rivalidade.
Pior: desde que essa decisão foi tomada, mesmo os encontros e amálgamas anteriores deixaram de ser reimpressos no mundo todo.
Nos resta caçar nos sebos materiais tão divertidos quanto Dark Claw Adventures.