O legado do Cavaleiro, o Batman da Inglaterra
Por muito tempo, uma palavra, mais do que todas, definiu a DC Comics: LEGADO. Títulos como Flash, Sociedade da Justiça e Lanterna Verde apresentaram diversas gerações de heróis usando o mesmo nome ou tema.
O próprio Batman tem um legado enorme, que incluí Robin, Asa Noturna, Batgirl, Batwoman e até o obscuro Clube dos Heróis, que acabou recebendo um upgrade e se tornando a Corporação Batman. E se disséssemos que, mesmo dentro desse time não tão conhecido, existe um longevo legado na forma do Cavaleiro?
Tudo começa em 1941, nas páginas de Adventure Comics #66, onde Creig Flessel nos apresentou outro Cavaleiro, Sir Justin, o Cavaleiro Andante (Shining Knight).
O personagem era um dos Cavaleiros da Távola Redonda do Rei Arthur, que salvou Merlin em certa ocasião. Em retribuição, o mago fez da armadura, espada e escudo de Justin indestrutíveis, ainda dando asas ao seu cavalo, que se tornou o Vitória Alada.
Em batalha com o ogro Blunderbore, Justin e seu cavalo foram soterrados por uma avalanche e ficaram em animação suspensa, até que foram encontrados e revividos em 1941, bem a tempo de lutarem na 2ª Guerra Mundial. O Cavaleiro Andante foi um dos fundadores dos Sete Soldados da Vitória e membro valoroso do Comando Invencível (All-Star Squadron), além de guarda-costas pessoal de Winston Churchill, de quem se tornou grande amigo.
Agora voltemos ao tema do site, o Batman. Em 1950, em Batman #62, Bill Finger e Dick Sprang apresentaram a dupla Cavaleiro e Escudeiro (Knight & Squire), heróis ingleses que basicamente eram a contraparte britânica de Batman e Robin – e na época com uniformes mais condizentes com seus codinomes. Os heróis eram Percy Sheldrake e seu filho, Cyril. Ambos fizeram parte do Clube dos Heróis, que também tem o nome bem mais legal Batmen de Todas as Nações.
Mas o que diabos o Cavaleiro Andante tem a ver com tudo isso? Bem, em Young All-Stars #22 (1988), Sir Justin ganhou um sidekick, seu próprio Escudeiro, através de um retcon numa época pós Crise nas Infinitas Terras, onde as histórias das várias Terras estavam sendo unificadas. E esse Escudeiro era ninguém menos do que o jovem Percy Sheldrake. E eis que surge uma verdadeira tradição Cavaleiro/Escudeiro, desde os tempos do Rei Arthur!
Treinado por Justin, Percy fez parte do Comando Invencível e dos Young All-Stars e continuou ao lado de seu mentor por alguns anos depois do final da guerra. Já adulto, adotou o codinome Cavaleiro e chegou a integrar o grupo internacional Guardiões Globais.
Percy acabou morrendo em combate com seu arqui inimigo Spring Heeled Jack e Cyril o sucedeu como Cavaleiro. Infelizmente, Cyril não era muito equilibrado, ficando sobrecarregado com a responsabilidade que herdou, seja a fortuna da família ou o título de Cavaleiro. Isso o levou ao alcoolismo e a apostas, que chegaram a custar o castelo da família. Para pagar suas dívidas, até agiu por pouco tempo como vilão.
E eis que entra em cena Beryl Hutchinson (segundo seu criador, Grant Morrison, batizada em homenagem a Beryl the Peril, uma tira de jornal inglesa), uma garota que literalmente resgatou Cyril da sarjeta, até mesmo oferecendo sua garagem como base de operações. Cyril se reencontrou como Cavaleiro e treinou Beryl para ser sua Escudeira.
Essa versão da dupla deu as caras pela primeira vez em JLA #26 (1999), seguindo a tradição, como parte de mais uma equipe internacional: os Ultramarines. Desta vez, existia um contraste: Cyril vinha de uma família nobre, enquanto Beryl sempre se virou nas ruas. Mas isso não quer dizer que ela não tem instrução, pelo contrário, entende de computadores e tem extrema facilidade em aprender outras línguas e qualquer padrão de comunicação, de maneira quase sobre-humana.
Beryl the Peril não foi a única homenageada. A moto do segundo Cavaleiro se chama Anastasia, mesmo nome da nave do clássico aventureiro espacial Dan Dare.
Morrison tomou gosto pela dupla e voltou a usá-la várias vezes em histórias da Liga da Justiça e do Batman, principalmente quando reformulou o Clube dos Heróis e o reapresentou como a Corporação Batman, uma unidade internacional de combate ao crime coordenada pelo Batman e financiada pelas Empresas Wayne.
A dupla teve os holofotes voltados a ela em apenas uma ocasião, na minissérie Knight and Squire (2010-2011), escrita por Paul Cornell (Doctor Who) e desenhada por Jimmy Broxton. Cheia de conceitos divertidos que mereciam até uma revista mensal, a mini apresenta outros heróis e vilões ingleses, já que eles frequentam um mesmo pub, onde a trégua entre eles prevalece. Entre eles está Jarvis Poker, o Coringa inglês.
Nas últimas aventuras da Corporação Batman, Cyril é morto em combate por um clone de Damian Wayne. Sua despedida, com o povo britânico lamentando pelas ruas, aponta uma adoração e importância nunca demonstradas anteriormente, ao ponto do Primeiro Ministro cogitar bancar sua ressurreição.
Isso não ocorreu, mas o legado continuou. Como já era esperado, Beryl se tornou a Cavaleira e continuou a combater o crime. Até o momento, essa foi a última aparição da moça. Fica a torcida para o retorno da Corporação Batman.
Mas ainda não acabamos, faltam dois Cavaleiros : Mortimer Drake e Hudson Pyke foram dois criminosos espadachins que adotaram a identidade de Cavaleiro. Contudo, aí é um caso de coincidência linguística. No original, o nome de ambos é Cavalier.
Leonardo Vicente é um dos apresentadores do programa HQ&CIA, mantém o blog Fala Animal! e é colaborador da revista Mundo dos Super-Heróis e demais publicações nerds da Editora Europa.