Batman – A morte da família
Devo dizer que estava bem curioso para ler qualquer coisa do Scott Snyder em sua passagem pelo Batman. Desde que o roteirista começou a escrever sobre o homem morcego, as críticas variavam entre “muito bom” e “superestimado”, e foi a hora de tirar minhas próprias conclusões quando ganhei o encadernado de “A morte da família” de presente.
A premissa parecia interessante: O Coringa decide voltar depois de um tempo sumido para acabar com a vida do Batman. É clichê? É. Mas funciona, então tá de boa.
A história
A história segue em um ritmo acelerado logo de cara. A volta do maior vilão do homem morcego chega com morte e muito sangue, o roteirista Scott Snyder gosta de enfatizar essa parte. Uma das coisas que eu não gostei foi a insistência em mostrar o coringa sempre um passo à frente do Batman. Se ainda fosse algo em início de carreira acho que passaria, mas com todo o relacionamento entre os dois sendo um pilar desse arco, soa um pouco forçado.
A vantagem do palhaço do crime é pegar o homem que é a figura paterna de Bruce Wayne, Alfred. Isso parece disparar um gatilho de desespero no Batman, que acaba sendo extremamente juvenil e caindo em qualquer traquinagem que o algoz realiza.
Nessa busca por Alfred, vemos um Batman que se recusa a aceitar a possibilidade do Coringa conhecer sua identidade secreta. Enquanto a trama se desenvolve (pero no mucho) vemos mais mortes e mais sangue, incluindo um atentado contra a vida do comissário Gordon.
A cada fim de edição, temos uma espécie de epílogo mostrando como o Coringa vai arquitetando o plano final (dentre tantos planos finais). Devo dizer que isso me incomodou no sentido que o personagem não é elaborado dessa maneira. Claro que em versões mais leves do personagem, como o pré-crise ou elseworlds, o Coringa fazia aquelas artimanhas dignas de vilão da semana do Scooby-Doo. Mas acho que eu estou acostumado com a versão “sou apenas um cachorro perseguindo carros” onde a aleatoriedade faz com que ele seja difícil de pegar.
Eis que o Joker, o palhaço, o bobo, finalmente consegue o que quer. Batman está preso e cabe ao Robin salvá-lo. Tudo isso é extremamente acelerado e culmina em um plano maléfico onde o coringa arranca os rostos de toda a batfamília. Seria algo ousado se realmente acontecesse.
Esse é outro ponto que incomoda no arco: as grandes decisões poderiam vir acompanhadas de uma hashtag #sóquenão. Nenhum grande acontecimento da HQ acontece de fato. No início pensamos que Alfred morreu, mas está vivo. Ele então mata o Batman, mas não mata. Arranca as caras de todos os sidekicks, exceto que ele não arrancou. É tudo uma grande decepção em ideias que já não eram boas em sua execução.
Por fim a trama se resume em uma suposta morte do coringa e de um momento do Batman fazendo mea-culpa e assumindo que meio que se revelou ao arqui-inimigo nos anos iniciais da carreira. O ponto legal é a última história do arco, que fica nas mãos do Peter Tomasi, onde ele mostra como o evento traumatizou Batman, Robin e Alfred e como eles fazem pra lidar com essa situação.
A arte
Greg Capullo comanda a parte do arco que fica no título Batman e que acaba sendo a maior parte da história. A primeira impressão que tive foi que o desenhista estava com pressa em certas partes. A histórias alterna entre momentos totalmente rabiscados e cenas bem impactantes. É só ver as capas desenhadas pelo próprio Capullo, perceber como estão muito bem acabadas e comparar com a arte interna. Às vezes o intervalo é de duas páginas entre um bom desenho e uma cena que faça você dizer “meu deus que coisa horrorosa”.
O coringa está usando a própria cara de máscara, achei relevante trazer isso somente na parte da arte, pois a saga é tão rasa que sequer trabalha direito essa ideia. Na mão do Capullo a tentativa é clara de fazer algo nojento, com o rosto em carne viva aparecendo demais e extremamente esticada, destacando os olhos meio loucos do personagem. Não sei dizer se foi uma descrição do Snyder, que pelo visto gosta de coisas meio “gore”.
A outra mão responsável pelos desenhos é de Patrick Gleason, o que acaba acentuando o garrancho do Capullo. Gleason manda bem demais nas artes e se foca em uma visão mais aterradora de um homem com a cara pregada no próprio rosto. A pele parece muito mais viva, meio borrachuda e solta. O rosto em carne viva dá lugar à sombras que acabam deixando a impressão de uma máscara bizarra, como de fato ela é.
Vale a pena?
Por fim, foi uma saga que me entreteve durante um certo tempo, mas se arrasta no desenvolvimento e conclui de maneira apressada. Não sei se de primeira viagem recomendaria esse encadernado em específico. Mas se você já conhece o trabalho dos novos 52 e gosta (sabe-se lá por que) talvez valha a pena.